05/11/2010

EDUCAÇÃO NÃO É A SOLUÇÃO

Creio que podemos afirmar que a situação do Brasil e do mundo está longe do ideal de liberdade, paz, justiça e amor fraterno.
Ao contrário, estamos convivendo com desemprego, drogas, estupros e assassinatos; sem falar de corrupção e guerras.


Parece-me que a quase totalidade das pessoas entende que a solução está em mais educação. Partindo do pressuposto de que essas pessoas estão se referindo apenas a essa educação tradicional que vem sendo praticada há longos anos, eu discordo.
Não apenas discordo, mas ouso afirmar que tal sistema educacional está nos colocando num beco sem saída ou, na pior das hipóteses, nos levando em direção a um mega-suicídio.
Não é difícil entender isso. Por exemplo, os países subdesenvolvidos têm por objetivo atingir padrões de desenvolvimento semelhantes aos dos Estados Unidos. A pergunta é: “Os Estados Unidos atingiram o ideal de liberdade, paz, justiça e amor fraterno?”. A resposta demonstra que a solução não se encontra nem na educação como vem sendo praticada, nem no valor do Produto Interno Bruto (PIB).
Estamos trilhando o caminho errado porque o sistema educacional está voltado basicamente para formar competidores e vencedores. E como para haver vencedores é necessário que haja perdedores, torna-se impossível se instalar – mesmo pela força – um estado de liberdade, paz, justiça e amor fraterno. Algo semelhante a pedir, após as eleições, que Lula ame FHC, ou vice-versa.
Por que o sistema educacional está voltado para formar competidores e vencedores? Porque as pessoas acreditam que a felicidade pode ser obtida com a posse de bens materiais, poder e relacionamentos. Desse modo, quanto mais as pessoas têm mais elas querem; e quanto mais elas querem mais distante elas vai ficando do sonho de liberdade, paz, justiça e amor fraterno.
Como, individualmente, raras pessoas estão empenhadas em interromper essa roleta russa – nem há interesse em interrompê-la coletivamente, conforme demonstram os US$ 800 bilhões que os Estados Unidos estão lançando hoje no mercado para aquecer o consumo –, a situação tenderá a piorar cada vez mais. Não é preciso ser um profeta do caos, basta apenas ter bom senso.
Qual a saída? Reformular o sistema educacional de tal maneira que a formação ética e moral seja prioritária, porque nossos problemas não são de cunho econômico e tecnológico; são éticos e morais. A crise dos Estados Unidos, por exemplo, somente ocorreu porque os proprietários, os consultores imobiliários e os bancos mentiram. No Brasil, os exemplos de comportamentos antiéticos pululam minuto a minuto e vão desde água sanitária no leite – alguém se lembra? – até Medida Provisória que beneficia dirigentes de entidades filantrópicas.
O problema é que formar pessoas com sólidos valores éticos e morais não interessa a ninguém; não interessa especialmente ao reduzido grupo de privilegiados. Primeiro, porque as pessoas não acreditam que todos estamos no mesmo barco e, desse modo, entendem que os mais competentes, os mais “sabidos” – e não os mais éticos – sempre serão mais felizes e sempre sobreviverão na ocorrência de um possível tsunami.
Segundo, porque ensinar e praticar Física é uma coisa; ensinar e praticar ética e moral é outra coisa completamente diferente. A velocidade da luz é de 300 mil quilômetros por segundo, e fim de papo. Ética e moral, contudo, não são grandezas quantificáveis, e como não temos limites de sobrevivência – ou melhor, a vaidade do ser humano não tem limites – a ética e a moral vão se tornando mais flexíveis a cada dia. Atualmente, por exemplo, com a maior naturalidade, o pai fala para o filho ou o padrão diz para o empregado, quando o telefone toca: “Se for para mim, diga que não estou”. São “mentirinhas”, mas como esperar que a liberdade, a paz, a justiça e o amor fraterno prosperem num ambiente de mentiras?
O sistema educacional vigente está estruturado para formar pessoas de ciência, e não seres humanos éticos e morais. Como se sabe, a ciência é neutra, e a sua utilização para o bem ou para o mal depende da formação ética e moral de cada um – e religiosa também, alguém poderá acrescentar. Religião é terreno minado, mas posso antecipar que abrir uma igreja por semana em cada esquina também não deve ser a solução. Sobre educação e religião, Aldous Huxley escreveu em 1937:
Milhões de crianças têm passado milhões de horas sob a disciplina escolar, lendo a Bíblia e escutando reprimendas – e os povos do mundo preparam-se para uma carnificina geral com mais empenho e mais cientificamente do que nunca; é visível o declínio do humanitarismo...
            Estou relendo a transcrição acima, quando um rapaz de boa aparência entra na sala e me pergunta:
— Onde fica o advogado?
— Na próxima sala ao lado, respondo.
— Onde está escrito Cirurgião-Dentista?
À medida que vou lhe dando informações mais detalhadas uma crise de “ser ou não ser” se apossa de mim, e eu me pergunto: filosofar sobre educação, ética e moral pra quem?
(11/2008)