22/10/2017

O SENTIDO DA VIDA


Em 1966, o proprietário de um bar em Itaberaba (BA) falou-me de uma séria decisão que tinha de tomar. Eu tinha 21 anos e acabara de tomar posse no Banco do Brasil. Face à gravidade do caso, argumentei que talvez não valesse a pena se arriscar tanto. Ele era uma pessoa de meia idade e de pouca teoria escolar, mas a lição de vida que ele me deu naquele momento nunca mais me abandonou. Ele respondeu:

— Anacleto, há momentos em que você precisa tomar decisões difíceis em sua vida, pois, se não as tomar, sua vida perderá o sentido e não valerá a pena continuar vivendo.


Depois de três ou quatro décadas, pude confirmar as palavras de meu amigo através dos livros do Dr. Viktor Frankl. Certa vez, perguntou-se ao Dr. Frankl por que havia numerosos casos de neuroses entre os jovens norte-americanos, se a maioria deles tinha todos os seus desejos atendidos?

O pesquisador austríaco respondeu que, muitas vezes, o vazio e a angústia existenciais decorrem do desejo de saber o significado da vida, o porquê e o para que viver. “Tal necessidade de sentido da vida é um impulso especificamente humano, arraigado nas camadas mais profundas do psiquismo”.

Ainda de acordo com o blog Melhor Sobre, “não basta o amor dos pais para curar este tipo de neurose. Por isso já está superado o slogan: ‘Ame seu filho e você o livrará da neurose’; é preciso que os pais apresentem a seus filhos também o sentido da vida”.[1]

Mas e no que se refere aos pais e avós? Será que eles já descobriram o sentido de suas vidas?

Na Segunda Guerra Mundial, o Dr. Frankl, sua mulher grávida e família foram deportados para diferentes campos de concentração. Com base nas experiências vividas, ele escreveu o livro Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração (Editoria Vozes). Segundo ele testemunhou, os prisioneiros que perdiam a razão para viver invariavelmente acabavam morrendo.

O mundo se transformou. Hoje, pelo menos literalmente falando, ninguém está vivendo num campo de concentração. Ou será que vivemos em “campos de concentração psicológicos” construídos pelas propagandas? Então, como fica o sentido da vida? Será que a falta de sentido, de uma razão para viver (uma razão que nos desafie e pela qual valha a pena viver!) não está influindo decisivamente em nossas vidas? Será que não é a falta de um sentido para viver que está levando a maioria das pessoas a adotarem comportamentos que, reconhecidamente, lhes são prejudiciais? Consumir, comer, beber, drogar, fazer sexo, viajar, tomar antidepressivos, etc. – até que ponto isso não tem nada a ver com o significado da vida, com o porquê e o para que viver?

Em sua logoterapia, o Dr. Frankl trata de ciência e espiritualidade. Sinto-me, portanto, à vontade para escrever que, com base nos ensinamentos de Jesus, entendo, ainda, que o sentido da vida está intrinsecamente ligado à missão de cada um aqui na Terra. Assim, talvez inconscientemente, sabemos que, ao prestarmos conta de nossos atos após a morte, seremos julgados pelos resultados que produzirmos e pelo uso que fizermos da capacidade e dos talentos que recebemos (Mateus 25,14), quando viemos morar, por alguns dias, aqui nesta filial do Reino de Deus. Seremos julgados por nossas próprias consciências e por ninguém mais, pois as leis do Senhor foram colocadas em nossas mentes e impressas em nossos corações (Hebreus 8,10). Não há como fugir, e talvez seja isso que tanto atormenta o homem moderno e tenha tornado uma utopia a felicidade autêntica e consciente.



José Anacleto de Faria é cofundador da Associação dos Amigos de Muriaé – AAMUR (em constituição).




[1] O MELHOR SOBRE... (Viktor Frankl). Disponível em: http://melhorsobre.blogspot.com/2007/05/sentido-da-vida-o-sentido-da-vida.html.
De acordo com Ancelmo Gois (O Globo de 25.04.07), em 40 dias, morreram oito jovens entre 18 e 23 anos em Valença, RJ. Um foi morto. Sete se suicidaram.