(Este texto-compilação foi elaborado há, mais ou menos,
uma década.)
Há longo tempo, a educação de meus filhos passou a
ser o maior desafio de minha vida. Não me refiro à educação que vem sendo praticada em
todo o mundo, ou seja, basicamente me preocupar com o melhor colégio e com o
vestibular no futuro. Não vou delongar em questionamentos, porque sou
frontalmente contra o sistema vigente, seja educacional, político, econômico ou
religioso. Não sou especializado no assunto, mas pactuo de opiniões de pessoas
inteligentes. Será que são inteligentes?
Veja, por exemplo, o artigo do
Administrador Stephen Kanitz na Revista Veja de 07.08.02: “Aprendi poucas
coisas que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e
primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos. (...) Na
próxima vez em que o seu professor começar a andar de um lado para o outro,
pense no que você está perdendo. Poderia estar aprendendo a pensar.”
Diogo Mainardi complementa na Revista Veja de
21.08.02: “Estudar para quê? (...) Lula foi mais clarividente do que eu.
Larguei os estudos no 2° ano da universidade, enquanto ele só conclui o curso
primário.”
Na Revista Exame de out/96, o Professor Roger
Schank dispara: “Obrigar as crianças, que são tão diferentes umas das outras, a
estudar a mesma coisa, no mesmo livro, na mesma página, na mesma hora. Isso é
um absurdo completo. Aliás, estudar é um desperdício de tempo. Quem se lembra
depois do que decorou à noite, na véspera de uma prova?”
O Dr. José Ângelo Gaiarsa salienta: “O que restou
em você depois de quinze anos de perda de tempo, sentado em uma cadeira,
fazendo sabe-se lá o quê? Quinze anos de tortura e tédio, cujo conteúdo poderia
ser aprendido em um ano, se alguém estivesse interessado nesse sentido.”
Barry Stevens, que deixou o ginásio em 1918, porque
o que queria saber não podia aprender na escola, comenta: “Grande parte de
nossa dificuldade parece provir da conservação de uma crença. Se tenho a
certeza de que é bom bater numa criança, de que é bom dar-lhe grande liberdade,
os maus resultados me levarão apenas a insistir naquilo em que acredito. É o
que parece ter acontecido com a educação. Não deu o que desejávamos, então
vamos dar mais educação...”.
Falando na Universidade de Harvard, Carl R. Rogers
tirou literalmente o sono de muita gente quando falou: “Creio que aquilo que se
pode ensinar a outra pessoa não tem grandes consequências, como pouca ou
nenhuma influência significativa tem sobre o comportamento (...) Sinto que o
aprendizado que influencia significativamente o comportamento é o aprendizado
autodescoberto, autoapropriado (...) Um conhecimento autodescoberto, essa
verdade que foi pessoalmente apropriada e assimilada à experiência de um modo
pessoal, não pode se comunicar diretamente a outra pessoa (...) Compreendi que
tinha perdido o interesse em ser professor (...) Sinto que os resultados do
ensino ou não tem importância ou são perniciosos (...) Quando considero os
resultados do meu ensino passado, a conclusão real parece ser a mesma – ou foi
prejudicial ou nada de significativo ocorreu. Isso é francamente aflitivo (...)
Deveríamos renunciar aos exames. Eles medem apenas o tipo de ensino inconsequente
(...) Deveríamos acabar com graus e avaliações acadêmicas (...) Deveríamos
abandonar os diplomas como títulos de competência.”
Huberto Rohden concorda com a opinião de Rogers
quando diz: “Só existe autoeducação; não existe alo-educação (educação de fora
para dentro). Ou o homem se educa ou não se educa. Outros não podem educar-me;
só podem mostrar-me o caminho pelo qual eu me possa educar.”
A preocupação é antiga. Em 1937, Aldous Huxley
escreveu: “A educação tradicional é um treinamento para a vida em uma sociedade
hierárquica, militarista, na qual as pessoas são abjetamente obedientes a seus
superiores e desumanas com seus inferiores (...) Milhões de crianças têm
passado milhões de horas sob a disciplina escolar, lendo a Bíblia e escutando
reprimendas – e os povos do mundo preparam-se para uma carnificina geral com
mais empenho e mais cientificamente do que nunca.” Qualquer semelhança com a
guerra entre os Estados Unidos e o Iraque seria mera coincidência?
Peter F. Drucker pergunta: “As escolas, sua
estrutura, seu papel, seus objetivos e, acima de tudo, o que elas ensinam
tornar-se-ão, cada vez mais, uma preocupação importante. O que conseguimos em
troca de todos os anos que passamos nas escolas? (...) A maior fraqueza das
escolas de hoje, que deve afetar os estudantes, é a camisa-de-força verbal
(...) Mas o resultado é uma escola que, em lugar de formar, deforma. É uma
escola de tédio, de falta de estímulo, de falta de realização e de satisfação.
Não me surpreende o fato de os jovens fazerem tumultos. Surpreende-me sua
paciência, considerando-se quão enfastiada está a maioria deles na escola,
quase que constantemente.”
A.S. Neill, criador da escola SUMMERHILL, segue a
mesma linha: “A educação deveria ser uma preparação para a vida. Nossa cultura
não tem tido grande sucesso. Nossa educação, nossa política, nossa economia,
levam à guerra. Nossa religião não aboliu a usura, o roubo. (...) Pergunto que
espécie de bem terreno pode vir de discussões sobre francês, ou história
antiga, ou seja lá o que for se esses assuntos não valem um caracol quando
comparados a perguntas maiores, relativas à natural realização da vida, da
felicidade íntima do homem. (...) Os pais são tardos no compreender quanto é
falho de importância o lado referente à escola. Crianças, como adultos,
aprendem o que desejam aprender. Toda outorga de prêmios, notas e exames,
desviam o desenvolvimento adequado da personalidade. Só os pedantes declaram
que o aprendizado livresco é educação. Os livros são o material menos
importante na escola. Tudo quanto a criança precisa aprender é ler, escrever,
contar. O resto deveria compor-se de ferramentas, argila, esporte, teatro,
pintura e liberdade. A maior parte do trabalho escolar que os adolescentes
fazem é, simplesmente, desperdício de tempo, de energia, de paciência. Rouba à
juventude seu direito de brincar, brincar e brincar: coloca sobre ombros moços
cabeças velhas. (...) Educação de nível e diplomas universitários não fazem a
mínima diferença na confrontação dos males da sociedade. Um neurótico letrado
não faz diferença alguma de um neurótico iletrado. (...) Mas todos os
laboratórios e oficinas maravilhosos nada fazem para ajudar o Joãozinho e a
Maria a vencer os prejuízos emocionais e os males sociais nascidos da pressão
sobre eles exercida pelos pais, pelos professores e pela qualidade coercitiva
da nossa civilização.”
Filosofando com o Osho: “Qualquer coisa que a
criança esteja fazendo, os adultos estão lá para dizer: Não faça isso! (...) O
homem tem sido perturbado. Todos, de seus pais a seus professores, a escola, a
faculdade, a universidade, sua religião, seus pregadores, seus vizinhos, todos
estão tentando fazer de você uma outra pessoa, alguém que você não pode ser.
(...) Na sociedade é muito difícil encontrar seres humanos que lhe deem
liberdade para ser você mesmo. Isso criou um mundo de retardados. As nações
necessitam de idiotas. Senão quem vai lutar nas guerras? (...) Tudo o que está
acontecendo, está acontecendo nesta vida, mas as religiões estão transferindo
tudo para antes do nascimento ou para depois da morte. A estratégia é a mesma.
O ponto fundamental é que você deve permitir que as pessoas o explorem. (...)
Este globo nos pertence e todas as linhas do mapa são fictícias e falsas... A
menos que os indivíduos comecem a mudar todo o sistema educacional... O sistema
educacional deveria ensinar-lhe a arte de viver, deveria ensinar-lhe a arte de
amar, deveria ensinar-lhe a arte de meditar, deveria finalmente ensinar-lhe a
arte de morrer gloriosamente. O seu sistema de educação não é educacional. Ele
cria apenas balconistas, chefes de estação, carteiros, soldados, e você chama
isso de educação. Você foi iludido, mas a fraude é tão antiga que você a esqueceu
completamente. (...)Todo o sistema educacional deveria estar concentrado no
divertimento, no amor, na liberdade, na consciência, e em um tremendo respeito
por tudo aquilo que está vivo”.